Em post anterior, detalhei como obter meu livro gratuitamente, e ainda prometi publicar um capítulo de cada vez, semanalmente, às quintas-feiras, iniciando pelo Prólogo. Agora, vamos ao Capítulo 6! Boa leitura!


Capítulo 6

A manhã estava fresca e ensolarada. Marina apeou do cavalo e sentou-se à beira daquele mesmo riacho de tempos atrás. Era um de seus lugares preferidos na propriedade.

O córrego desfilava suavemente pela paisagem, rodeado por uma diversidade de árvores, centenárias ou não. Dali, se via a majestosa serra, que envolvia o ambiente, trazendo aconchego. 

Perdida em seus pensamentos, aproveitando o frescor da manhã, se assustou quando ouviu alguém chamá-la pelo apelido carinhoso:

— Marininha!

— João! Ela quase não acreditou ao vê-lo ali, à sua frente. Mesmo com aparência mais madura, continuava um homem bonito.

Ele se aproximou meio acanhado e a olhou com carinho.

— Vim às escondidas visitar meus pais e irmãos.

O coração dela não disparou, nem suas mãos tremeram. Afora a surpresa, nada mais. Então, teve a certeza de que realmente o havia superado.

— Você está muito bonita…

Ela agradeceu o elogio com um simples meneio de cabeça.

Parecia nervoso, sem saber o que fazer, nem como se comportar diante dela.

— Sempre vem aqui? Perguntou ele, quando tomaram assento próximo a uma das árvores.

— Sim, de vez em quando.

— Estive aqui antes por duas vezes, sempre escondido. No dia de seu casamento e no enterro de seu pai, dois momentos marcantes para mim.

Ela não imaginava, nem remotamente, daquelas visitas furtivas. E o ouviu, com interesse.

— Vi quando saiu da igreja… com seu marido… eu estava do outro lado da rua… atrás de uma árvore — suas palavras eram entrecortadas e pesarosas — e no funeral de seu pai, me mantive longe dos presentes para não ser visto, e quando não tinha mais ninguém por perto, fui até o túmulo e orei. Era um bom homem.

Marina continuava ali, apenas ouvindo.

— É bom vê-la novamente, Marininha. 

— Quando partirá?

— Hoje ainda, após o almoço. Cheguei ontem à noite. Não posso correr o risco de ser visto, isso traria problemas para minha família.

Ela se limitou a concordar com um trejeito.

Em meio à quietude que se instalou por alguns minutos, inesperadamente, ele perguntou:

— Como está?

— Estou bem, graças a Deus. Mesmo que tudo não estivesse tão bem, considerou que era a resposta que ele merecia ouvir.

João percebeu sua frieza. Não era a mesma Marina de tempos atrás.

 — É feliz com seu marido? Já sabia que não, mesmo assim perguntou. Queria ouvir da boca dela.

— Não importa.

 João ficou frustrado. Sabia que ela estava se esquivando do assunto. Seus pais já haviam contado que José era um escroque e que só eram casados no papel. Sua atitude mostrava o ressentimento que tinha por ele.

— Não sei se foi certo ter ido embora, mas naquele tempo eu era um garoto imaturo… sentia muita raiva de sua mãe… do meu pai… até pensei, mais de uma vez, vir te buscar e levar comigo… ao mesmo tempo, refleti no que isso poderia causar a ti e à minha família… por fim, decidi que isso só traria problemas. Sei que a magoei… e me magoei também… peço que me perdoe…

Naquele instante, João sentiu certo alívio em meio a angústia que carregava no peito. Há muito tempo ansiava encontrá-la para dar alguma explicação, por menor que fosse, e acima de tudo, pedir perdão.

Com semblante calmo, ao menos aparentemente, Marina olhou fundo em seus olhos.

— Não lamente o passado, o que importa é o agora — com expressão imperturbável, retomou — seguimos caminhos diferentes, apenas isso. Não há o que perdoar.

Num ímpeto, chegou mais perto dela, e declarou:

—  Durante todos esses anos, nunca consegui te esquecer, e não posso acreditar que tenhas me esquecido…

— Agora é tarde para nós — não tinha dúvida disso, e nem tencionava prolongar àquele momento — desejo que sejas feliz. E se afastou lentamente.

— Também desejo felicidade para ti…

Ele, sem se mover, a seguiu com os olhos, cheios de melancolia, até perdê-la de vista, galopando contra o vento. Foi a última vez que se viram.

¨¨¨

Marina refletiu sobre o reencontro com João. E ao mesmo tempo, lembrou daquela garota apaixonada e deslumbrada que foi no passado, cheia de sonhos. João era seu príncipe encantado, que a desposaria e seriam felizes para sempre.

O conto de fadas caiu por terra, desde o instante que decidiu partir, mesmo tendo a opção de ficar. Sentiu-se abandonada, e depois traída quando descobriu que ele tinha casado com outra mulher. Antes disso, ainda alimentava a esperança de que retornaria para ela, e juntos, lutariam pelo amor que os unia. Só que isso nunca aconteceu.

Por conseguinte, de pirraça, casou-se com um ordinário, que lhe rendeu dissabores e vergonha, mas em compensação, lhe deu quatro filhos, os melhores presentes, a maior felicidade que poderia ter.

Não era mais aquela jovem inocente. Era mulher e mãe, com pés fincados no chão, sem devaneios e fantasias, que não se prendia a um passado que nada poderia lhe acrescentar. Seu lema era seguir em frente, sem olhar para trás.

O reencontro com João lhe provou isso.

¨¨¨

Corria com as crianças pelo jardim, quando Catarina apareceu esbaforida, chamando por ela e interrompendo a brincadeira.

— Zé Beraldo está na cidade — Catarina, aquela mulher de olhos miúdos, que sempre expressaram força e determinação, estava visivelmente assustada — saiu da cadeia há pouco tempo e rumou para cá. Tenho medo de que apareça de novo por aqui.

Marina lembrou que sua mãe já o havia enfrentado no passado. Foi um assunto que esteve presente em muitas conversas, não somente em casa, mas também na cidade. Fatos desse tipo, se alastram, tal e qual rastilho de pólvora.

Além dela, todos na fazenda tinham sido avisados sobre a novidade, e estavam alertas, para o caso de uma nova visita do meliante.

Na oportunidade, Catarina aconselhou:

— Acho melhor você evitar os passeios a cavalo por algum tempo, até as coisas voltarem ao normal. É um elemento perigoso, não é bom facilitar.

Compenetrada, Marina a ouvia.

— Antigamente, ele só andava junto à corja que liderava, mas agora parece que age sozinho — Catarina arregalava os olhos, ao mesmo tempo em que falava — ele é o “Coisa Ruim”, em pessoa, pior não existe, mata por diversão, por isso estava preso.

— A fama o precede. Espero que ele nunca mais cruze o nosso caminho. Ao mesmo tempo que falou aquilo, Marina sentiu uma sensação esquisita, como um mau presságio.

Depois que Catarina se afastou a passos apressados, tentou afastar aquele pressentimento ruim, que surgiu de repente.

Juntou-se novamente aos filhos. Na companhia deles, tudo parecia mais fácil, mais leve. E conseguiu relaxar.


Na quinta-feira da próxima semana, continuaremos com o Capítulo 7.

Capítulo 6 do Livro Essa Família e os Outros© 2023, da autoria de Andrea Freitas Gondim. Todos os Direitos Reservados.

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