Em post anterior, detalhei como obter meu livro gratuitamente, e ainda prometi publicar um capítulo de cada vez, semanalmente, às quintas-feiras, iniciando pelo Prólogo. Agora, vamos ao Capítulo 2! Boa leitura!


Capítulo 2

Marina, muitas vezes, perdia a noção do tempo no jardim, cuidando das rosas, flores e plantas. Era um de seus hobbies.

Além disso, desde cedo, tivera aulas de corte e costura, bordado, tapeçaria, croché e tricô. Por isso, em seu aniversário de quinze anos, além de uma grande festa, seu pai lhe presenteou uma máquina de costura Singer com gabinete de ferro e madeira. O último modelo, e também o mais caro da época.

— Alvíssaras! Te amo, papai!

Seus olhos lacrimejavam e brilhavam ao abraçá-lo, que também se emocionava com a reação da filha amada.

Desde então, Marina gastava horas criando ou consertando peças de roupas. Seus bordados, por exemplo, à máquina ou manuais, eram considerados pela família e amigos, a verdadeira expressão da beleza e perfeição em seus mínimos detalhes.

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Quando completou 18 anos, já namorava às escondidas com João Matias, o filho do capataz, homem de confiança de seus pais.

Brincavam juntos desde crianças, e com o tempo, a amizade se transformou em paixão. Sabiam que seus pais nunca iriam aceitar a união, e por isso, se encontravam em segredo. Eram de mundos diferentes.

Muitas vezes se pegava pensando de como conseguiriam a aprovação dos pais para que pudessem se casar e assim, selar o amor que os unia. Era algo tão remoto, quase impossível em sua opinião, mas tentava não perder a confiança de que, um dia, seriam marido e mulher e construiriam uma vida juntos.

Nos momentos que estava sozinha, seus pensamentos eram dele. Fechava os olhos, e parecia vê-lo à sua frente. Um verdadeiro deus de ébano. Alto, porte atlético, de aparência nobre, olhos escuros, vivazes, e sorriso cativante. Seus cabelos eram cortados rente à cabeça, e sua força e altivez resplandeciam através da bela pele melânica.

E parecia também o ouvir, lembrando de frases já ditas por ele: Nós podemos fugir e casar em qualquer lugar… depois de casados, nem sua mãe, nem ninguém, irá nos separar.

Ria sozinha ao recordar do entusiasmo com que ele pronunciara cada palavra na última vez que se viram, à beira do riacho, onde costumavam se encontrar.

O local, que também fazia parte da propriedade, tinha sido escolhido a dedo. Não era frequentado por ninguém, com exceção de algum piquenique previamente programado por seus pais. Portanto, ali estariam seguros, e não seriam surpreendidos por quem quer que fosse.

Aquele belo lugar, era o santuário deles, longe de tudo e de todos.

E Embalada pela habitual empolgação de João, ela se permitia sonhar.

Um sonho que logo se chocaria com a vida real.

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João tirou uma pequena caixa preta de veludo do bolso da calça e entregou a ela. Dentro dela, um lindo anel em ouro branco de dezoito quilates com uma ágata azul ao centro. Era seu presente de aniversário, mesmo que atrasado. Por motivos alheios à vontade de ambos, não puderam estar juntos na especial data, há três dias.

— Para ti, Marininha. Só ele e seu pai a chamavam assim — era de minha avó, agora é seu.

Pôs a joia no dedo dela.

Por um momento ele ficou em silêncio, aguardando sua reação. Contemplou-a como se estivesse diante da mais delicada e valiosa das pedras. Tinha uma beleza pueril e encantadora, que ao mesmo tempo, exalava vigor e determinação. Assim era ela, com seu olhar brilhante, sua cabeleira, presa no alto da cabeça, que se esparramava quase na cintura, lembrando uma amazona. Tinha pele clara, corpo longilíneo e ereto, que exibia uma postura aristocrática. Para ele, era uma deusa. Sua deusa.

Emoção e felicidade emanavam dos olhos de Marina.

— Alvíssaras! Obrigada, meu amor.

— É o meu presente de aniversário e o símbolo de nosso amor eterno.

Quando estavam juntos, não se importavam com as horas, que passavam rápido demais. Já era final de tarde, quando ele lhe beijou à mão que recebera o anel. Estavam assim, entregues àquele momento, quando repentinamente uma voz se fez ouvir.

— Posso saber o que significa isso?

Surpresos e assustados, levantaram-se de súbito. Dona Albertina, acompanhada de dois empregados, estavam ali, diante deles. Antes tiveram o cuidado de deixar os cavalos a uma certa distância, e continuaram o trajeto, pé ante pé, silenciosamente, para que não fossem percebidos com antecipação.

— Vamos para casa agora, Marina! Ordenou a mãe.

— Mamãe, nós nos amamos e queremos nos casar. Só assim, serei realmente feliz. A voz da filha era uma súplica.

— A partir de agora não terão mais esses encontros fortuitos — gritava Dona Albertina com olhos fulminantes — não aprovo esse namorico!

Os dois tentaram dizer alguma coisa, mas foram imediatamente interrompidos por ela.

— Estava mesmo desconfiada dessas saídas vespertinas, bastante demoradas — encarava Marina com decepção e raiva — deve ter esquecido que tenho olhos em todo lugar.

E voltando-se para João, continuou:

Não te expulso dessas terras, em consideração aos anos que seu pai trabalha para nós, e por te conhecer desde a meninice — e determinou — quero que vá para sua casa, e não ouse mais se aproximar de minha filha!

Naquele momento, nada poderiam fazer. Dona Albertina era que ditava as regras, e nenhum argumento, por mais elaborado que fosse, não a convenceria do contrário.

Depois que se foram, João continuou ali, sozinho. Chorou e pensou muito. Já estava escuro quando decidiu ir para casa.

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Depois daquela tarde, Marina mergulhou em um profundo vazio. E logo depois, quando soube que João tinha ido embora, por vontade própria, e com o consentimento dos pais, sem ao menos despedir-se dela, a tristeza lhe corroeu as entranhas.

Não conseguia se alimentar, nem dormir direito. Quando não estava no quarto, passava a maior parte do tempo na capela da fazenda, rezando e buscando alguma ajuda divina.

Em uma dessas vezes, quando regressava para casa, encontrou seu pai no meio do caminho.

— Estava procurando a senhorita. Disse sorrindo.

Ela o abraçou, como se buscasse alento.

— Minha filha, tens que reagir — nesse momento a olhava dentro dos olhos — poderias mudar de ares, passar um tempo na praia…

— Vou ficar bem, é apenas uma questão de tempo — o desassossego dele a incomodava, não gostava de vê-lo preocupado, principalmente por sua causa — e não tenho a intenção de viajar agora.

— Sua mãe sempre resolveu as coisas assim, a ferro e fogo, e mesmo que ela tenha atitudes distintas das minhas, assim como eu, ela só deseja o melhor para ti.

Isso é o melhor, papai?

— Na cabeça dela, sim — aconchegou-a novamente em seus braços — logo vai passar. Mas, não passou.


Na quinta-feira da próxima semana, continuaremos com o Capítulo 3.

Capítulo 2 do Livro Essa Família e os Outros© 2023, da autoria de Andrea Freitas Gondim. Todos os Direitos Reservados.

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