Em post anterior, detalhei como obter meu livro gratuitamente, e ainda prometi publicar um capítulo de cada vez, semanalmente, iniciando pelo Prólogo. Agora, vamos ao Capítulo 13! Boa leitura!


Capítulo 13

No domingo seguinte, acompanhada de Catarina e os filhos, Marina encontrou Dr. Salim Calixto junto à esposa, na saída da igreja.

— Marina! É sempre um prazer revê-la. Quando se encontravam, sempre a cumprimentava de forma amigável e gentil, ao contrário de sua esposa, que mal lhe dirigiu a palavra e logo se encaminhou para o carro.

Catarina e seus filhos, o saudaram com cortesia, e decidiram esperá-la do outro lado da rua, deixando-os a sós.

— Peço desculpas por isso. Estava visivelmente constrangido com a atitude de sua mulher.

— Não precisa se desculpar, Doutor. Já aprendi a conviver com essa situação. Desde que se desquitou do marido, com exceção dele, sua família também se afastou dela.

— Como vai a nova vida? Ele se apressou a perguntar, tentando mudar o assunto.

— Nadando, conforme a maré — e confessou — mas, estou com uma ideia na cabeça.

— Sou todo ouvidos.

Diante de tudo que tem acontecido nos últimos tempos, pensei em mudar de ares, e decidi ir para Montesino — olhou de soslaio para o veículo, onde o médico era esperado com impaciência — sei que conhece muita gente por lá, quem sabe, alguém que esteja pretendendo alugar um imóvel.

— Se crê que é o melhor, vá em frente — fez breve pausa e retomou — a propósito, tenho um amigo, professor, que aluga casas por lá. Quem sabe, alguma esteja disponível.

— Alvíssaras! Comemorou, risonha.

De imediato, ele sacou do bolso de seu paletó um pequeno bloco de notas e uma caneta, rabiscou o contato do locatário em questão, destacou a folha e entregou a ela. Marina leu a anotação e guardou o pedaço de papel em sua bolsa.

— Muito obrigada, doutor — ela se apressou em dizer, olhando novamente para o carro há poucos metros dali.

— Caso precise de algo mais, sabe onde me encontrar.

Marina o olhou com apreço, e lembrou que, ela e sua família sempre puderam contar com sua desvelada dedicação ao longo dos anos, como médico e também amigo. Já era um homem velho, e ouvira rumores que ele pensava em se aposentar e passar o bastão para o filho mais velho, que era, assim como ele, clínico geral e cirurgião.

Apertaram-se às mãos e cada um seguiu seu caminho.

¨¨¨

Marina fez uma visita à Sofia no final da tarde, e contou-lhe sobre o encontro com Dr. Salim.

— Então, pensa mesmo em mudar para Montesino? Perguntou Sofia, curiosa.

— Eu não seria a primeira, nem a última pessoa a fazer isso — Marina tinha um ar meditativo — É logo ali, e seria o melhor para mim e minha família.

— Lá, as possibilidades são inúmeras, sem dúvida — completou Sofia com um sorrisinho malicioso — um novo amor, por exemplo.

— Isso não está em questão — Marina ficou corada com o comentário da amiga, e procurou mudar o assunto antes que fosse longe demais deveria ir também, mudaria seu salão de beleza para lá, onde a clientela seria bem maior, e moraria conosco na mesma casa.

Sofia, pensou um pouco com seus botões e finalmente, falou:

— Prometo pensar com carinho. É uma proposta deveras tentadora.

¨¨¨

Mesmo sob os protestos dos filhos, o que já era esperado, que lamentavam ter que se afastar dos amigos, da escola e do pai, Marina se manteve firme em sua decisão. Iriam morar em Montesino. Catarina, ao contrário deles, recebeu a notícia com entusiasmo. Para ela, sair daquela cidade, cheia de lembranças tristes, traria a esperança de melhores dias.

Os últimos dias foram intensos para Marina, mediante todas as providências relacionadas à mudança. Com a ajuda de Sofia, vendeu quase todos os móveis, que ainda estavam em bom estado, além de objetos decorativos, e outras bugigangas. Decidiu se livrar de quase tudo que a remetia ao passado.

Suas economias e o dinheiro obtido com as vendas, ajudariam muito no início.

Com o apoio e intermédio de Dr. Salim, conseguiu agilizar a locação do imóvel em Montesino. Tinha ido até lá, dias antes, junto com ele, para finalizar os trâmites do aluguel e pegar a chave. Professor Alexandre Gusmão, o proprietário, era um homem de aspecto distinto, na casa dos 45 anos, mais ou menos.

Também não foi difícil alugar o sobrado a uma família recém-chegada a Prado Verde. A maior dificuldade enfrentada durante o período foi o encontro com José, que discordava de sua decisão.

— Também tenho direitos com relação aos meus filhos, não pode afastá-los de mim! Exclamava ele, com veemência.

Desde o desquite, não o tinha encontrado, nem falado com ele até aquele momento, sentados no banco da praça em frente ao sobrado. Se pudesse, teria evitado aquilo, mas não tinha alternativa. Não queria recebê-lo em sua casa, pois, bastaria a primeira vez, para que ele se sentisse à vontade de retornar sempre que quisesse, e também não se imaginava indo até o bangalô, que ele dividia com outra mulher.

— Montesino não é longe daqui, e estou pensando no bem deles, lá será melhor em todos os sentidos. Marina falava friamente, mal olhando para ele.

— Cinquenta quilômetros de distância! Sabes que posso impedir isso, se eu quiser. José gesticulava os braços nervosamente, atraindo a atenção de transeuntes.

— Por favor, fale mais baixo, tente manter a calma, as pessoas estão olhando. Solicitou ela, envergonhada.

— Não me importo com as outras pessoas — continuava a berrar, visivelmente irritado — tinha a obrigação de me consultar antes sobre isso.

Aquela cena exagerada não a convencia. José era dado a encenações com o fim de se destacar de alguma maneira. Isso fazia parte de sua personalidade medíocre.

— Poderá vê-los sempre que quiser. Não tenho a menor intenção de separá-los de você — arrumou uma mecha de cabelo que caía na testa, e completou — apesar dos pesares, você é muito amado por eles.

José se manteve calado por algum tempo, avaliando todo o contexto. Marina aguardava sua resposta, e aqueles minutos de silêncio que se seguiram, pareciam uma eternidade para ela.

— Muito bem, muito bem… não oferecerei mais nenhuma resistência, com uma condição — ainda desconfiado, impôs sem meias palavras — que eu os leve de carro até lá, no dia da mudança.

Marina tinha certeza de que acabaria concordando. O espetáculo feito antes tinha o único objetivo de chamar a atenção para si mesmo.

— Cabe todos nós e boa parte da bagagem também. Apontou para uma Kombi estacionada do outro lado da rua, se dando por satisfeito.

— Vou aceitar sua oferta — olhou para ele de esguelha — você levará os meninos e alguns pertences, eu irei na picape de Seu Jerônimo com Catarina e o resto das coisas.

As vantagens naquela proposta era a economia que ela faria ao cancelar o outro carro antes contratado, e que José não mais a desgastaria com vãs ameaças.

— Então, estamos de acordo. Disse ele, levantando-se.

— Com uma ressalva — ainda sentada, ela também tinha uma exigência a fazer — quando chegarmos lá, não estará convidado a entrar na casa, tudo continuará do jeito que está.

— Não imaginei o contrário. Sem mais, pôs a mão no bolso da calça, pegou às chaves do carro e atravessou a rua.

¨¨¨

Um novo começo rumo ao desconhecido. Ainda não eram dez horas da manhã, quando Marina se postou diante da nova casa, da nova vida.

Sair de Prado Verde, onde sempre vivera ao longo de 49 anos, sem marido, na companhia de Catarina, que já era uma mulher de meia-idade, e dos quatro filhos adolescentes para o burburinho de uma cidade, em crescente desenvolvimento, tinha sido a melhor decisão, apesar de tudo.

À frente, via-se o muro baixo com um portão de canto, que dava para um pequeno jardim. Adiante, uma grande porta de madeira maciça, ladeada por duas amplas janelas.

No exato momento que girou a chave na fechadura, sentiu um calafrio percorrer a espinha.

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Seu Jerônimo trouxe um peão da fazenda para ajudá-lo a carregar a bagagem e os poucos móveis que Marina decidiu levar.

José despediu-se dos filhos queixosos, com a promessa de visitá-los o mais breve possível. Antes de entrar na Kombi, acenou para Marina e partiu.

— A vida dele melhorou, pelo que eu soube — ela seguiu o carro com os olhos até virar na primeira esquina — espero que crie juízo.

— Esse não tem jeito, na minha opinião. Foi um livramento em sua vida, patroinha. Seu Jerônimo deu de ombros e voltou ao trabalho.

Assim que terminou de transportar todos os pertences de Marina para o interior da casa, se despediu e seguiu viagem.

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Marina pôs a mesma placa que usava no endereço anterior, no muro da frente de sua nova moradia, oferecendo seus serviços. De imediato, apareceram duas pequenas encomendas, o que a deixou contente e esperançosa.

Foi também a uma loja de móveis, onde comprou uma mesa de jantar com seis cadeiras, que foram entregues no dia seguinte. Naquele momento, era o que dava para comprar. Depois, iria providenciar o resto, na medida do possível.

Entre essas e outras deliberações, Marina se manteve ocupada e não sentiu a semana passar.

Finalmente, na sexta-feira, final de tarde, Sofia chegou com sua alegria habitual, para passar o final de semana, conforme tinham combinado antes.

— Gostei dessa casa. Não é tão grande quanto à outra, mas é mais acolhedora, aconchegante. Declarou Sofia, olhando ao redor.

— Embora esteja praticamente vazia, acho o mesmo. Reiterou Marina, apreciando cada detalhe à sua volta.

— Você e as crianças me fazem muita falta — apertou as mãos de Marina — sendo assim, estou considerando a proposta que me fez de mudar-me para cá. — Alvíssaras! Marina a abraçou, realmente contente.


Na próxima semana, continuaremos com o Capítulo 14.

Capítulo 13 do Livro Essa Família e os Outros© 2023, da autoria de Andrea Freitas Gondim. Todos os Direitos Reservados.

Fonte da Imagem: Gerada por mim, através de IA.

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