Em post anterior, detalhei como obter meu livro gratuitamente, e ainda prometi publicar um capítulo de cada vez, semanalmente, iniciando pelo Prólogo. Agora, vamos ao Capítulo 10! Boa leitura!


Capítulo 10

Um dia, José procurou Marina na companhia de um advogado para reclamar seus direitos. Mesmo contra sua vontade, os recebeu. Infelizmente, ela não tinha como contestar a lei e a certidão de casamento.

A partir de então, José teve livre acesso aos bens da família, e voltou a ocupar seu antigo quarto na casa.

Sem se preocupar com nada, nem ninguém, José continuou na esbórnia, passando a maior parte das noites no bordel com Jane, ou em jogatinas até altas horas da madrugada, usufruindo sem limites da herança deixada.

Ainda perseguia Laura, porém de forma velada, para não chamar a atenção de outros e não provocar ciúmes em seu namorado, que era bem mais jovem e mais forte que ele.

Certa manhã, logo cedo, trôpego, apareceu em casa e esparramou-se no sofá. Vindo do corredor, Marina o olhou com desprezo.

Ele, balançando a cabeça, deu uma sonora gargalhada.

— Queria ter o poder de fazê-lo desaparecer para sempre! Declarou ela com o dedo em riste.

— Estás pensando em tirar minha vida como fizestes com aquele jagunço? José fez de propósito. Sabia que a menção ao trágico evento a abalava profundamente.

Sem hesitar, Marina aproximou-se e deu-lhe um tapa. Enfurecido, levantou-se intentando fazer o mesmo, mas desequilibrou-se e caiu sobre a mesa de centro, espalhando objetos decorativos pelo chão. Com alguma dificuldade, se levantou e deu outra gargalhada.

— Essa casa não é mais tua, nada aqui te pertence mais, estás falida! Arrematou ele, sentando-se novamente.

— Isso é mais um dos teus artifícios para desestabilizar-me? O marido sempre fora um mentiroso, um enganador, por isso, sempre duvidava do que dizia.

— Na época que seu pai era vivo, as coisas já não iam bem — teve o prazer de comunicar à esposa, a real situação de seus supostos bens — a grande depressão[1] e o pós-guerra[2] respingaram aqui também, então tiveram que fazer negócios que não deram certo e acumularam dívidas.

— Se assim fosse, eu já estaria ciente.

— Seus pais sempre a trataram como um bibelô — levantou-se com ar vitorioso — sempre te omitiram os problemas relacionados ao patrimônio da família.

— Estás mentindo!

— Se não acreditas em mim, fale com o contador — e olhou-a dos pés à cabeça, antes de concluir — ele que me contou tudo.

A cabeça dela girava e não conseguia esboçar nenhuma palavra.

— Agora, sou eu que quero sair desse lugar! Se for para viver com uma mulher pobre, que seja com uma bem mais jovem e mais bonita.

Se dando por satisfeito, saiu porta afora. Tinha conseguido abater o ânimo da altiva herdeira de nada.

Marina continuou ali, imóvel, desorientada.

¨¨¨

Na tarde daquele mesmo dia, Marina reuniu-se no gabinete com Olavo Ventura, o contador, que confirmou tudo que José dissera antes.

— Presumo que seu marido não tenha contado tudo…

— Tem mais? Marina gelou por dentro. Suas mãos tremiam.

— Além do montante de dívidas, existia ainda capital, que com uma boa estratégia, teria a possibilidade de reverter a situação — ajeitou os óculos de grau e prosseguiu — conversei com seu marido, logo após a morte de sua mãe, e mostrei através de documentos, o que poderia ser feito, mas ele não me deu ouvidos.

— Por que o senhor não falou comigo sobre isso? Havia desespero e indignação em sua voz.

— Sinto muito, senhora — ele estava claramente desconcertado — foram as orientações recebidas de seus pais, e depois de seu marido, que passou a controlar tudo.

— Algo mais?

Em detalhes, o moço relatou que as posses que antes restavam, à exceção de um bangalô nas proximidades e um sobrado na cidade, haviam sido dilapidadas com a compra de joias, automóveis importados, cavalos puro-sangue, e logo depois, tudo foi perdido em apostas, restando apenas as dívidas. E que, José tinha contribuído o suficiente para o catastrófico desfecho.

Em seus maiores delírios, Marina nunca poderia imaginar que viveria um cenário daquele tipo. Preferindo ficar sozinha, dispensou-o, agradecendo as informações. Não tinha mais nada a perguntar ou a dizer àquela altura dos acontecimentos.


N.A.:

[1] Quebra da Bolsa de Valores em Nova Iorque, EUA, em 24/10/1929, conhecida como quinta-feira negra, que atingiu todos os países capitalistas, provocando um colapso econômico ao longo de 10 anos.

[2] Referência à Segunda Guerra Mundial (1939-1945).


Na próxima semana, continuaremos com o Capítulo 11.

Capítulo 10 do Livro Essa Família e os Outros© 2023, da autoria de Andrea Freitas Gondim. Todos os Direitos Reservados.

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