Em post anterior, detalhei como obter meu livro gratuitamente, e ainda prometi publicar um capítulo de cada vez, semanalmente, iniciando pelo Prólogo. Agora, vamos ao Capítulo 9! Boa leitura!


Capítulo 9

Meia-noite. Todos dormiam na casa, com exceção de Dona Albertina, que observava o céu estrelado da janela do quarto. Pensou em José, e apreciou a sensação de sossego que sentia, desde que o expulsou na semana anterior. Ela sabia que isso ia acontecer mais dia, menos dia, por um motivo ou por outro.

Logo depois, ficou sabendo que ele tinha se alojado no bordel.

Compartilhou com Marina o real motivo de ter tomado tal atitude, e teve seu total apoio, afinal de contas, não tinha como ser diferente.

Sentia-se culpada por ter trazido aquele traste para o seio da família. Mas não adiantava lamentar, não tinha como mudar o passado, e ainda bem, existia seus netos, a única parte boa, resultante de sua decisão impensada. 

Sentiu sede. Pegou a quartinha que ficava sobre uma mesa de canto, e encheu o copo. Ainda bebia a água, quando ouviu um barulho vindo do corredor. Parou, e em silêncio esperou. Não ouviu mais nada. Deve ser o vento, supôs.

No minuto seguinte, a porta se abriu de repente. Assustada e antes que pudesse fazer qualquer coisa, aquela criatura, que conhecia há bastante tempo, invadiu o recinto, fechando a porta atrás de si.

— Zé Beraldo!

Tentou pegar a espingarda que ficava do lado da cama, mas ele foi mais rápido e a apanhou antes.

— O que quer? Como conseguiu entrar na casa?

— Não se afobe, Dona. A senhora continua muito nervosa… Ao mesmo tempo em que falava, o invasor sorria com deboche, mostrando os dentes que restavam, manchados pelo hábito de mascar fumo.

— Quer dinheiro? Enquanto perguntava, pensava em como se salvar do malfeitor.

— Eu quero tudo… até sua vida.

Os olhos de Dona Albertina se arregalaram.

No mesmo instante, a porta abriu-se novamente. Dessa vez, era Marina.

Ouvi barulho e… não conseguiu terminar a frase quando percebeu que sua mãe não estava sozinha.

Atordoado, Zé Beraldo virou-se de imediato, apontando a carabina para Marina. Antes de puxar o gatilho, Dona Albertina o agarrou, e a arma disparou. A matrona tombou ao chão, atingida no peito.

Sem conseguir pensar direito, em um movimento brusco, Marina quebrou a quartinha na cabeça do agressor, fazendo-o cair e soltar a arma. Logo depois, ainda zonzo e cambaleante, ele conseguiu levantar-se. Em pânico, sem vacilar, Marina pegou a arma do chão, e sob o olhar atônito do indivíduo, atirou, e o viu cair à sua frente.

Quando aprendeu a atirar com arma de fogo, por insistência de sua mãe, achava que era uma grande perda de tempo, pois não gostava e nem precisaria daquilo em sua vida. Naquele momento, percebeu o quanto estava enganada.

Catarina surgiu à porta logo após, e ficou abismada com a cena dantesca.

Marina não conseguiu sair de onde estava.

Momentos depois, acordados pelos estampidos, seus filhos também apareceram.

— Catarina, tire-os daqui! Gritou ela, sem sair do lugar.

E ficou ali, parada, por algum tempo. Parecia estar anestesiada.

Mesmo assim, logo depois, aproximou-se dos dois que permaneciam no chão, para verificar se estavam vivos ou não. Checou-lhes os pulsos. Estavam mortos. Diante da confirmação, em estado letárgico, conseguiu chegar à sala, onde estavam Catarina e as crianças, aturdidos e impressionados.

Ela se dirigiu à fiel escudeira, com a voz semelhante a de um autômato:

— Chame Jerônimo… Dr. Salim… o delegado…

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Os corpos foram retirados da fazenda e encaminhados ao necrotério mais próximo, em Montesino, para autópsia.

Dias depois, com a liberação do corpo de Dona Albertina, realizou-se o funeral, sob forte chuva. Mesmo assim, muita gente compareceu, entre familiares, amigos e curiosos.

De volta à casa, Marina fez sala para alguns parentes e amigos, ainda chocados com o ocorrido, que se serviram de chá e biscoitos, e depois foram embora.

Logo depois da morte da sogra, José tentou se reaproximar, mas Marina não o recebeu, e deu apenas permissão para que visse os filhos, da porta para fora.

Mesmo assim, continuavam casados no papel, em comunhão de bens, e José estava determinado a buscar seus direitos.

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Muitos reveses acometeram nossa família nos últimos tempos… comentava Marina quase em um murmúrio, enquanto desfazia o penteado em frente ao toucador.

Lembrou-se, desolada, da forma que sua mãe morrera, e do depoimento dado ao delegado pela morte do bandido. Como agiu em legítima defesa, foi absolvida de qualquer culpa. Se não o tivesse matado, provavelmente não estaria ali.

Catarina, sentada à beira da cama, em silêncio, parecia não a ouvir, na mais profunda tristeza.

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Pensamentos aos borbotões ocupavam a mente de José. Precisava organizar as ideias, depois de tudo o que aconteceu.

Quando procurou Zé Beraldo no dia subsequente ao seu despejo, o combinado seria apenas tirar Dona Albertina de cena. A pedra no sapato. Após conclusão do serviço, o marginal receberia a recompensa e depois sumiria, sem deixar rastros.

Com sua morte, além de economizar uma boa soma, ainda não teria que se preocupar que desse com a língua nos dentes ou lhe fizesse alguma chantagem no futuro.

Não imaginava aquele desfecho, mas no final teve um resultado melhor do que o esperado. Marina, sem saber, resolveu isso para ele.


Na próxima semana, continuaremos com o Capítulo 10.

Capítulo 9 do Livro Essa Família e os Outros© 2023, da autoria de Andrea Freitas Gondim. Todos os Direitos Reservados.


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